Tudo aquilo que eu não disse | 2023
Nós contamos nossa história frente a um “outro” que nos pede que façamos. Para Foucault, a escrita de si não é apenas um registro do "eu" mas a forma que o próprio sujeito performa a noção de indivíduo na sociedade. A escrita então pode ser concebida como um exercício de si. O ato de construção da subjetividade é instantâneo ao próprio ato de falar sobre si mesmo, uma constante construção e reconstrução de significados que transitam em nosso inconsciente. A partir de uma máquina de datilografar sem tinta, peço que o inconfessável que cada indivíduo carrega dentro de si seja registrado. A ausência da tinta fará com que tal registro seja ilegível – garantindo assim seu sigilo – porém, cada letra pressionada no papel deixará uma marca, mais suave ou mais perceptível, a depender da intensidade da escrita. O que restará serão os rastros do indizível, as marcas invisíveis daquilo que carregamos em segredo.