CARTAS PARA O ONTEM
14.05.2022 - 17.06.2022
“Num tempo não determinado, mas precedente ao tempo em que se está, me deixaram um bilhete de outrora. Em letras vermelhas contavam histórias minhas de um passado que nunca vivi. Num piscar de olhos, me vieram imagens entre-apagadas de memórias que a partir de agora, reivindico a autoria.” Maria Luiza Porto
Cartografia é atividade de construção e desenvolvimentos de cartas geográficas. A paisagem de Maria Luiza Porto é formada por memórias, sua geografia é desvendada pela arqueologia dos afetos. Suas cartas são para o ontem, entre relatos e imagens, mapas da memória que contam narrativas vividas e inventadas.
Apresentamos a vocês um memorial da própria memória. Histórias, vivências, sentimentos e afetações acumuladas. Cada trabalho é um rastro, um vestígio, um artefato que te provoca a pensar, ruminar sobre o ontem. Numa luta incansável contra o esquecimento.
O vermelho ganhou especial destaque nesta mostra, elegido pela artista como a cor dos seus apagamentos, ela surge em primeira instância na pintura, assumindo o lugar das identidades dos indivíduos que habitam a fronteira do esquecimento e a partir delas, se expande, ganha o mundo material e varre a exposição.
O vermelho é uma cor que historicamente possui muitas interpretações e significados, caminhou por diferentes movimentos, regiões, épocas, sempre sendo explorada e entendida de diferentes formas. Não por acaso foi um dos primeiros pigmentos a ser descoberto pelo homem, e permanece em paredes pré-históricas comunicando visualidades de um passado. Também nas paredes o vermelho habita em cartas para o ontem. Revela fragmentos, anotações, pequenas lembranças do verso de fotografias, das mesmas que são o principal objeto investigativo de Maria Luiza Porto, os objetos que se fazem emissários para outros tempos.
Portais entre ontem e amanhã, imagens-cartas, portadoras das histórias. A fotografia é a grande provocação de Maria Luiza Porto. Delas, imagens familiares, de diferentes tempos, Porto parte para a pintura, subvertendo, apagando, co-criando novas realidades, sobrepondo narrativas, preenchendo lacunas do lembrar, exercitando as memórias inventadas. A artista vai e volta da fotografia, indo para a pintura, para a parede, para o documento, para a escrita, e retorna mais uma vez. Num ciclo incessante de quem investiga o passado e todas as suas possibilidades de se reinventar no amanhã
Maio de 2022
Gisele Lima