ANAMNESE
26.09.2024 - 08.11.2024
O trabalho investigativo e poético de Maria Porto é permeado por sutilezas, por cores, formas e sentidos que não estão enunciados somente na configuração da imagem. Vive em cada obra uma camada que se camufla, quase invisível, instigando ao olhar atento sutilezas imprevisíveis. Estas sutilezas, em particular, estão encobertas como se fossem sonhos prestes a eclodir do inconsciente, como se fossem “coisas que estão enterradas no fundo do rio da vida. Na maturidade, no acaso, elas se desprendem e sobem à tona, como bolhas de ar”, conforme o dizer de Iberê Camargo, em sua obra Gaveta dos guardados (2009, p. 14). Esse inconsciente presente na obra de Maria Porto, fala, grita e busca eco a partir da sua potência narrativa e visual. Uma potência anunciada pelas memórias da infância, por aquilo que foi vivido e experienciado a partir de um cotidiano particular. Nas obras apresentadas para esta exposição, essa potência advinda da memória, constrói contornos que dialogam com a realidade psíquica da artista, alimentando se de resquícios de um imaginário que não cessa de apontar, pela via da sua produção poética, os caminhos percorridos e, talvez, muitos caminhos ainda desconhecidos. Um caminho afirmado por sua natureza interior, pela via régia do inconsciente e transmutado, conforme dito anteriormente, por camadas de cores e formas que inauguram uma poética vigorosa. Uma produção que evoca outras vozes, outras cenas, outras histórias, outras memórias para compreender a si mesma que, de algum modo, interessa e diz respeito ao próprio sujeito encenado. Uma encenação que aborda com ousadia e maturidade o processo de recordar, inscrevendo-se em consonância com os fatos e o tempo vivido, colocando-se na cena do mundo.
Setembro de 2024
Luiz Carlos Pinheiro Ferreira